segunda-feira, 1 de abril de 2013

Me ame ou me odeie, mas primeiro me conheça Tenho 37 anos, sou filha de pais separados há 31 anos. Naquela época existia o preconceito nisso e achavam que as mulheres separadas deviam procurar amantes para serem sustentadas, mas minha mãe fez diferente. Ela não aceitou isso, ela preferiu limpar casa, passar roupa pra fora, até que conseguiu ser novamente telefonista. Assim sustentou a mim e ao meu irmão. Trabalhou em banco, empresa, hospital e no SOS Criança. Lembro que eu e meu irmão íamos levá-la até o metro quando tinha plantão noturno, lembro que ela acordava muito cedo para ir ao trabalho, que era longe de casa. Ela sempre trabalhou muito, mas nunca deixou de ter tempo pra conversar comigo e com meu irmão, falava sempre sobre tudo: sexo, drogas, postura perante à vida, sobre ter caráter, ser sempre verdadeiro, aliás até hoje ela abomina mentira. Sempre nos falou: nunca na sua vida minta, pois se fizer isso, nunca irão acreditar em você quando estiver falando a verdade. E desse jeito criou e educou 2 filhos responsáveis e de bom caráter. Não exagero ou me promovo com isso, digo apena a verdade, sabe por quê? Porque eu e meu irmão sempre trabalhamos e estudamos, nunca demos problema e hoje somos dois adultos responsáveis e inteiros. Trabalho desde os 13 anos, hoje estou quase completando 15 anos na mesma empresa e tenho consciência que sou boa no que faço, pois faço com verdade e vontade de fazer, isso é transformador. Fiz 2 colegiais, me formei tarde mas fiz o que sempre sonhei, não me deixei vencer pelo comodismo. Tenho um relacionamento sério e muito bonito, nossas famílias querem nos ver juntas e tem orgulho da nossa relação. Nos levam a sério saca? Sempre fui caxias, certinha, estudiosa, preocupada com todos que fazem parte da minha vida, do meu mundo. Tenho zilhões de defeitos também, o que mais me irrita: impaciência! Affeee sou tolerância zero, mas ando me adestrando pra melhorar, e sei que melhorei. Aí você se pergunta pra que tudo isso né? Rsrsr Eu perguntaria a mesma coisa. Sempre ouço piadas, discursos homofóbicos, hoje temos um político assim assumindo um cargo ligado aos Direitos Humanos. Confesso, me irritei. Como alguém que não enxerga a minoria pode ter a audácia de ter um cargo em um grupo onde se defende os direitos humanos???????????? Outras perguntas me vieram à tona: Como posso ser julgada pela forma que amo? Sou menos ou menor porque amo de um jeito diferente? Se não me conhecem, se não sabem minha história, que direito eles sentem que tem para me julgar apenas porque souberam que sou gay? Então ser gay define todo meu caráter?? De hoje em diante tenho que me apresentar: bom dia, prazer sou a Cida, lésbica? Nunca me apresentei como: Oi sou a Cida a administradora, a compradora, porque tenho a certeza que devo me apresentar assim: Oi sou a Cida. O resto deixo que transpareça para que as pessoas me conheçam. Mas sei que muitas pessoas precisam julgar. Julgam minha roupa, meu cabelo, meu gosto musical, meu time, porque não julgariam meu modo de amar né? Infelizmente não tenho mais a inocência de achar que as pessoas devem apenas gostar ou não de mim, apesar de ainda achar que é assim que deve ser. Hoje olho ao meu redor e vejo pessoas felizes, inteiras, responsáveis, que preservam o amor e o respeito, que se importam com a felicidade e a paz dos seus e dos próximos. Todos tem seus defeitos, mas as qualidades que tem, sobressaem a eles. Sou iluminada por fazer parte dessa família, nela incluo amigos porque são a família que escolhi. Sigo andando meu caminho, com os meus, em busca do que quero e com a força necessária para ter plena certeza de que faço o melhor que posso e isso não me deixa para nos obstáculos. Ao contrário, me impulsiona para ir além. A força nasce em mim, mas sempre se fortalece naqueles que amo e me amam. Hoje olho minha vida e tenho imenso orgulho em quem me transformei e de quem está ao meu lado. Não amo a todos, mas me exijo respeitar a cada pessoa que cruza meu caminho. Na minha religião se diz: orai e vigiai para que seu orgulho não vença seu caráter. Seja correta, firme, paciente, sincera e apenas queira o bem de cada um, no dia em que desejar o mal a alguém, você deixou de seguir o princípio básico que Jesus lutou tanto pra nos ensinar: a pequena palavrinha, o AMOR. Chega de julgamentos baseados na forma de amar, na forma de se ligar a Deus, vamos seguir o caminho que todos dizem seguir, mas que são presunçosos e orgulhosos demais pra de fato seguir: o respeito ao próximo. Amar alguém do mesmo sexo não é pecado, pecado é não amar.